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Sincretismo religioso

Em Salvador, é comum que pessoas do Candomblé, católicos e evangélicos convivam nas mesmas famílias. Essa convivência exige tolerância mútua, o que não é fácil, mas é necessário. O sincretismo, que é a mistura de crenças e culturas, não é algo feito só para impressionar turistas; ele é uma parte essencial da formação do nosso povo.

Do século XVI ao XIX, pessoas de diferentes etnias e até grupos rivais da África foram escravizadas e trazidas ao Brasil. Os Iorubás vieram da área que hoje é a Nigéria, os Fons de Benin e os Bantus de regiões como Angola, Congo, Guiné, Moçambique e Zaire. Esses e outros grupos estão bem explicados no livro “O Candomblé bem explicado”, de Odé Kileuy e Vera de Oxaguã.

Por mais de 300 anos, eles foram vendidos como escravos, e o primeiro sincretismo aconteceu entre os próprios escravizados, que muitas vezes vinham de tribos inimigas. Os Bantus se espalharam por estados como RJ, SP, MG, ES, MA, PE, BA e RS. Já os Iorubás e Fons foram para áreas urbanas de RJ, SP, BA, PE e MA. Alguns reinos africanos participavam da escravidão, vendendo os vencidos em guerras. No Brasil, mesmo sendo de grupos rivais, esses africanos tiveram que se unir para preservar suas culturas.

O Candomblé foi criado no Brasil, algo que muita gente não sabe. Como eram obrigados a seguir o catolicismo, os escravizados encontraram uma forma de continuar venerando seus orixás, associando-os aos santos católicos. Por exemplo, Ogum foi ligado a São Jorge e Obá a Santa Bárbara. Como Nietzsche disse, “o que não te mata te fortalece”, e assim a cultura religiosa africana sobreviveu e se espalhou com força pelo Brasil.

No Brasil, ainda há uma “separação” que impede muitos negros de ocupar posições de poder econômico, mesmo mais de um século após o fim da escravidão. Mas, na cultura, principalmente na música e no esporte, essas barreiras foram superadas. O sincretismo que surgiu ao longo dos séculos manteve a cultura afrodescendente viva e forte.

Já os indígenas sofreram um genocídio que reduziu drasticamente sua população. Além disso, muitos foram exterminados culturalmente. É mais fácil achar livros sobre xamãs esquimós ou índios norte-americanos do que sobre os brasileiros. Grupos como os Guarani-Kaiowá, que às vezes são lembrados nas redes sociais, são um dos últimos a resistir à extinção completa da cultura indígena, que era a original dessas terras antes das invasões europeias.